I
Eduardo Lourenço numa entrevista ao Jornal de Negócios:
"O PCP foi a divina surpresa. Foi um golpe de talento,de génio. [...) Agora que o adversário quase mítico do PS leve o PS para o poder, se isto não é um milagre de Fátima não sei o que lhe chamar."
II
Na 1ª Guerra Mundial morreram 7600 portugueses.
Na Europa 2000;
Em Angola 800;
Em Moçambique 4800.
"Na Grande Guerra de 1914-18, o exército português sofreu a sua maior derrota em África desde Alcácer Quibir. No Norte de Moçambique morreram mais soldados portugueses do que na Flandres. Não tanto pela razia das balas alemãs. Mais pela fome, pela sede, pela doença e pela incúria. Minada pela vergonha, a I Guerra em Moçambique acabou votada ao esquecimento. Não tinha lugar numa nação que até 1974 sonhava com um império ultramarino"
Durante o Estado Novo para denegrir a Republica só se referiam os mortos em França...
III
Manuel Alegre que fez 80 anos no passado dia 12 é um dos meus poetas preferidos que acompanhou a minha geração desde o tempo dos anos de chumbo (como diria Eugénio Lisboa).
Descobri agora que ama Pessanha [Ao longe, os barcos de flores], como eu. Também António Nobre o das [Ó, virgens que passais,ao sol poente] musicado por Lopes Graça e ainda Herberto Helder. Pois foi entrevistado por Luís Caetano para o seu incontornável (como se diz agora) "A Ronda da Noite".
Vai do 01:00 ao 49:14 e termina com a ária “e lucevan le stelle” da “Tosca” numa belíssima versão de Luciano Pavarotti, gravada, penso que em 1987, nos tempos em que ainda não andava pelos estádios a cantar de microfone.
http://www.rtp.pt/play/p1299/e236209/a-ronda-da-noite
Já agora a canção de Lopes Graça de 1951 do poema de Nobre, cantada por Elsa Saque acompanhada por Nuno Vieira de Almeida. Não consegui a de Fernando Serafim, a minha preferida.
Paul Krugman escreveu no New York Times:
"As coisas estão terríveis em Portugal, mas não tão terríveis como estavam a um par de anos".
O jornal digital Observador traduziu assim
"As coisas estão terríveis em Portugal".
Só isto.
Os cálculos na vesícula, os sintomas de um reumatismo que o atacava quando o Outono se aproximava ou a certeza de que o fim das coisas era inevitável abriam-lhe a porta ao pessimismo em geral e à descrença no futuro – mas a visão de um mundo encavalitado às costas do "progresso" era o aspecto mais penoso da existência. A esta distância, compreendo-o; ser "contra o progresso" é nos nossos dias um pecado capital, e resmungar contra "a criatividade" tornou-se uma apostasia definitiva e dramática.
O "ser humano" está condenado a acreditar na criatividade sem limites, na originalidade, no progresso, na mudança e, finalmente, na ideia de que as coisas novas são sempre superiores às antigas. Isto pode fazer confusão a um velho do Alto Minho, educado pela vida (e pelos desaires) a apreciar as coisas que permanecem e a desconfiar das invenções em que não vê grande utilidade.
A minha sobrinha Maria Luísa – a eleitora esquerdista da família – já foi uma sacerdotisa do Progresso (com maiúscula). Hoje, desconfia bastante da direcção que as coisas tomam, e o seu optimismo em relação à espécie humana é morigerado. Alimento a esperança, dissimulada por muita cautela e certo tom de ironia, de vê-la feliz como Dona Ester, minha mãe, gostava de ver felizes os seus filhos, espalhados sobre o areal da praia de Afife, respirando o iodo da tarde e abrigando-se do vento galego que descia pelo litoral. Os sucessos e insucessos dos últimos setenta anos ensinaram-me a desejar pouco, a aceitar a grandeza das coisas desconhecidas, a reler os livros que já foram belos algum dia, a manter alguma fé numa ordem que comanda os planetas ou a solidão das dunas de Moledo. Ao mesmo tempo, esse egoísmo não faz mal aos outros. Não exige muito deles. Não lhes oferece demasiadas desilusões, nem utopias, nem promessas vãs de um mundo perfeito. Não lhes alimenta a fé nas coisas impossíveis que exigem que os outros mudem para que nós possamos satisfazer os desejos pessoais.
Esse mundo perfeito existe, sim – mas terminou há muito, antes do progresso, da democracia e dos défices da economia. Também é preciso lembrar que não se pode voltar atrás nem é possível recuperar o tempo perdido. O que está perdido, está perdido. O que passou, passou há muito.