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A ressaca histórica russa gerou, entretanto, Vladimir Putin, que foi dando iniludíveis sinais da reconstituição de um modelo autoritário com que o Ocidente fingia poder ir convivendo. Do lado de cá, os traumas históricos bálticos e polacos, com uma cumplicidade errática de Berlim, foram influenciando a UE no sentido de “esticar a corda” com Moscovo. E viu-se então o espetáculo de Bruxelas a estimular, na Ucrânia, o derrube, por um golpe de Estado, de um presidente que havia sido democraticamente eleito, como forma a garantir em Kiev um governo favorável à relação privilegiada com o Ocidente.
A UE já havia sido complacente no modo inaceitável como as minorias russas foram tratadas nos Estados bálticos e, de forma irresponsável, nada cuidou em as tentar proteger na “nova” Ucrânia. O resultado está à vista: deu um pretexto nacionalista a Putin, para quem um tratado de Direito internacional é uma obra de ficção, e ao proteger sem limites nem moderação a tática prevalecente em Kiev, colocou-nos agora na soleira de uma guerra. Para regredirmos 25 anos, já só falta fazer ingressar a “Ucrânia de Kiev” na NATO.
(Extracto de artigo de Seixas da Costa no "Diário Económico")